04/07/2009

Sermão da Montanha

Sermão da Montanha

Índice
1 Partes e ensinamentos importantes do Sermão
1.1 Introdução narrativa
1.2 As Bem-aventuranças
1.3 Sal da terra, luz do mundo
1.4 Reinterpretação da Lei de Deus
1.5 Ostentação, Pai-Nosso e perdão
1.6 Materialismo e Providência divina
1.7 Julgar os outros
1.8 Regra de ouro
1.9 O verdadeiro discípulo e as suas dificuldades
1.10 Os falsos profetas
1.11 Edificar sobre a rocha
1.12 Fim narrativo
2 Interpretação segundo a Igreja Católica
3 Notas
4 Referências
5 Ligações externas

O Sermão da Montanha é um longo discurso de Jesus Cristo que pode ser lido no Evangelho de São Mateus, mais precisamente nos capítulos 5 a 7. Muito provavelmente, resulta da reunião de intervenções ocorridas em momentos distintos. Nestes discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que normam e orientam a verdadeira vida cristã, uma vida que conduz a humanidade ao Reino de Deus e que põe em prática a vontade de Deus, que leva à verdadeira libertação do homem. Estes discursos podem ser considerados por isso como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus, do acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz.

Além de importantes princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações, pois aquilo que muitas vezes é tido por ruim, por desagradável, diante de Deus é o que realmente vai levar muitos à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um paradoxo, contrariando a idéia de muitos e mais uma vez mostrando que "...'Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração" (I Samuel 16.7).

No Sermão da Montanha, o evangelista São Mateus está a apresentar Jesus Cristo como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha (certamente, apenas uma colina), porque Moisés tinha recebido os 10 Mandamentos na montanha do Sinai. Mas, Jesus não veio para abolir a Lei ou os Profetas [1], mas sim levá-los à perfeição na sua íntegra (Mt 5, 17).

Partes e ensinamentos importantes do Sermão

Introdução narrativa
Na introdução narrativa, o evangelista descreve que Jesus, vendo aquelas multidões, subiu à montanha e sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele, e é aí que Ele começou a pregar o seu famoso sermão ao ar livre (Mt 5, 1-2).


As Bem-aventuranças
As Bem-aventuranças [2] são o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus através da palavra e acção de Jesus, que tornam a justiça divina presente no mundo. A verdadeira justiça para aqueles que são inúteis, pobres ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. As Bem-aventuranças revela também o carácter das pessoas que pertencem ao Reino de Deus, exortando as pessoas a seguir este carácter exemplar.

Resumindo e usando as palavras do Catecismo da Igreja Católica (CIC), as bem-aventuranças nos ensinam o fim último ao qual Deus nos chama: o Reino de Deus, a visão de Deus, a participação na natureza divina, a vida eterna, a filiação divina, o repouso em Deus (CIC, n. 1726).

Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós. (Mateus, 5:3-12)





Sal da terra, luz do mundo
Jesus, através das metáforas de Sal e de Luz, revela a enorme força do testemunho e a importante função dos discípulos, especialmente dos pregadores, que é sobretudo preservar e proteger a humanidade contra as influências malignas da corrupção e da maldade (a função do Sal) e dar a humanidade a conhecer, através da sua fé e seu bom exemplo iluminadores, o caminho da salvação (a função da Luz).

Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado [3] pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus. (Mateus, 5:13-16)

Reinterpretação da Lei de Deus
Jesus revaloriza e reinterpreta, por vezes parecendo antitética (mas, na realidade não é), da Lei de Deus na sua íntegra, particularmente dos 10 Mandamentos, tendo por objectivo levá-los à perfeição (Mt 5, 17-48).

Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei [4] Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos Céus. Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.
(Mateus, 5:17-20)

Durante esta longa reinterpretação, Jesus exorta as pessoas a não ofender o seu próprio irmão e, se tal acontecer, buscarem uma reconciliação com ele (o ofendido) o mais cedo possível, deixando, se for necessário, a oferta diante do altar para ir primeiro fazer as pazes com o irmão e pedir o seu perdão pelas ofensas cometidas (Mt 5, 21-26).

Jesus amplia o conceito de adultério, afirmando que todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração, e opõe-se ao divórcio, ensinando que todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso [5]; e todo aquele que desposa [6] uma mulher rejeitada comete um adultério, defendendo e acentuando assim a indissolubilidade da união conjugal (Mt 5, 27-32).

Jesus também ensinou que os homens nunca deviam jurar de modo algum, muito menos jurar falso (Mt 3, 33-37).

O Sermão da Montanha (1890), pintura de Carl Heinrich Bloch.Jesus apela também para não resistir ao mau, querendo isto dizer que, na medida dos possíveis, não devemos resistir fisicamente às agressões (se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra), mas também não devemos replicar no momento ou posteriormente em tribunal os golpes sofridos, revogando assim a famosa Lei do talião que defende a vingança e a retaliação. Ele exorta também para dar a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado (Mt 5, 38-42).

No fim desta reinterpretação da Lei de Deus feita por Jesus, Ele apela aos homens para, se eles quiserem ser os verdadeiros filhos de Deus, amar não só o seu próximo, mas também os seus inimigos, fazendo bem aos que vos odeiam e orando pelos que vos [maltratam e] perseguem, tal como Deus, que faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. No fim, Jesus exorta para todos os homens, com esta prática de amor incondicional e supremo (uma das ideias-chave do Cristianismo), serem perfeitos, tal como Deus Pai, que é também perfeito (Mt 5, 43-48).

Ostentação, Pai-Nosso e perdão
Jesus, a seguir à reinterpretação da Lei de Deus, começa a condenar a ostentação na prática de 3 obras fundamentais do Judaísmo, que são a esmola, o jejum e a oração. Ele não pretende condenar a observância fiel e honesta destas obras boas e o bom exemplo que estas acções produzem, mas somente o vão desejo de ostentar em frente de outras pessoas. Ele alerta para o facto de, se a finalidade das pessoas que praticam estas obras é ostentar, eles já foram recompensados na Terra por outros homens que as elogiaram.

Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu. (Mateus, 6:1)
Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á. (Mateus, 6:2-4)
Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. (Mateus, 6:16-18)
Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. (Mateus, 6:5-8)

Durante o seu discurso sobre a oração, Jesus deu aos homens uma célebre oração, o Pai-Nosso [7], para ensiná-los como rezar correctamente.

Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. (Mateus, 6:9-13)

Jesus afirma também que se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará (Mt 6, 14-15).

Também sobre a oração, Ele exorta por fim aos seus discípulos que deviam sempre ter confiança na oração e particularmente em Deus, porque vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem durante a oração.

Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem. (Mateus, 7:7-11)

Materialismo e Providência divina
Jesus, condenando indirectamente o materialismo, exorta os seus discípulos para não preocupar demasiado com os seus bens e as suas necessidades materiais, mas sim, preocupar-se mais e em primeiro lugar em guardar tesouros no céu, para preparar o acesso ao Reino de Deus. Sobre a riqueza, Jesus alerta os seus discípulos para o facto de ser impossível servir ao mesmo tempo a Deus e à riqueza. E, relativamente às necessidades materiais dos homens e às suas preocupações quotidianas, Jesus apela para a confiança na Providência divina, afirmando que vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso [8] e que o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado (Mt 6, 19-34).
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração. (Mateus, 6:19-21)
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza. (Mateus, 6:24)
Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado. (Mateus, 6:31-34)

Julgar os outros
Neste sermão, Jesus condena também aqueles que julgam os outros, mas não sabem julgar-se a si próprio, não conseguindo reconhecer os seus próprios erros. E mais, ele alerta inclusivamente que nunca devíamos julgar os outros, para não sermos julgados, porque o único que tem capacidade e autoridade para julgar os homens é Deus.

Não julgueis, e não sereis julgados [9]. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão. (Mateus, 7:1-5)

Regra de ouro
Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas. (Mateus, 7:12)

O verdadeiro discípulo e as suas dificuldades
Jesus alerta para as dificuldades que os seus discípulos, que pretendem ser os verdadeiros filhos de Deus, irão encontrar no caminho estreito e apertado que conduz à vida eterna e ao Reino de Deus (o chamado caminho da vida).

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. (Mateus, 7:13-14)

Jesus também alerta os homens para o facto de só reconhecerem que Ele é o Senhor não é suficiente para eles serem salvos e reconhecidos como os seus verdadeiros discípulos, mas sim, necessitando também de fazer verdadeiramente a vontade de Deus.

Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! (Mateus, 7:21-23)

Os falsos profetas
Jesus aconselhou os seus díscipulos a acautelarem dos falsos profetas, que, apesar de parecerem ovelhas, são na verdade uns lobos arrebatadores e maus que têm por finalidade desorientar as pessoas e levá-las à perdição.

Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. Pelos seus frutos [10] os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos os conhecereis. (Mateus, 7:15-20)

Edificar sobre a rocha
Jesus, concluindo o seu sermão, exorta por fim aos seus díscipulos para, depois de escutar as suas palavras e ensinamentos, pô-los verdadeiramente em prática, para serem semelhantes a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha. A rocha é resistente a todas as tempestades, por isso, ela é uma excelente base ou fundamento para sustentar a casa, assemelhando-se à Palavra de Deus, que serve como fundamento e sustenta todas as pessoas que põe-na em prática, protegendo-as e ajudando-as a ultrapassar todos os obstáculos e dificuldades que elas poderão encontrar nas suas vidas.

Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.
(Mateus, 7:24-27)

Fim narrativo
No fim narrativo, o evangelista São Mateus descreve que a multidão que foi ouvir o sermão ficou impressionada com a sua doutrina, porque Jesus a ensinava como quem tinha autoridade e não como os escribas (Mt 7, 28-29).


O Monte da Transfiguração. Mateus 17.1 a 13 –Quando temos como assunto de pesquisa, a polêmica passagem da transfiguração de Jesus Cristo no monte que alguns historiadores dizem ser o tabor, narrada pelos evangelhos Sinóticos, surge a inevitável controvérsia com o espiritismo sobre o tema da “reencarnação” e “comunicação com o mundo dos mortos”.
Passagens como a descrita em Mateus 17.1-13 tem sentido único que é de salientar a natureza e obra do Reino de Cristo, como a sua chamada messiânica. Um verdadeiro vislumbre da glória futura.
Para tanto, vejamos:

Análise Histórica Textual.
Em seu último ano de ministério, quando ainda estava pregando na região da Galiléia, após algum tempo ali, Jesus chamou os discípulos André, Pedro e João para subir com ele ao monte com intuito de orar (Lc. 9.28). Foi quando os discípulos podem contemplar Jesus Cristo se transfigurando diante dos seus olhos. Diz o texto que seu rosto resplandecia como o sol e suas vestes eram brancas como a luz, então neste momento apareceu Moises e o profeta Elias falando com o Senhor, Pedro como sempre tomado por sua espontaneidade disse “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias”. Então uma nuvem luminosa os envolveu e eis que vinha da nuvem uma voz que dizia “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo”.
Esta situação amedrontou os discípulos de tal forma que caíram de bruços por causa de seu medo.

Análise Crítica textual.
O texto de Mateus é muito similar ao de Marcos, existe, porem um detalhe que o diferencia dos demais, Mateus traz o aspecto do rosto de Jesus, de que esta resplandecente como o sol, um dado que não temos nos Evangelhos de Lucas e de Marcos. Existe também o fato do texto de Mateus ser mais sucinto do que os demais.
Outra curiosidade referente a passagem, é o fato de que ela não aparece nos escritos joaninos, visto que o mesmo estava presente no relato bíblico.


Análise Morfológica.
A palavra chave deste texto é “transfiguração” oriunda da palavra grega que transliterado seria “metamorphoo” sendo, “meta”, após e “morpho”, forma; ou seja, outra forma, esta palavra grega tem sua tradução principal no português como “metamorfose”.

Vejamos:

Segundo o dicionário Michaelis: transfiguração:“Mudança que alguém sofre na figura ou na forma” .

Segundo o DITNT “metamorphoo: mudar em outra forma ou imagem”
Tomando como base o texto em questão podemos concluir que Jesus tomou uma forma humana diferenciada, naquele momento, o que possibilitou aquele episódio.

Espiritismo.

Este é um texto muito utilizado pelo espiritismo, para apoiar biblicamente a sua doutrina. Eles alegam através desta passagem existir a comunicação com os mortos e seu mundo. Como este texto faz parte dos sinóticos não devemos trabalhá-lo de forma isolada.

O evangelho de Lucas ao tratar dessa passagem, trouxe alguns dados que nos são imprescindível para esta questão, por exemplo, o assunto que é tratado entre Moises, Elias e Jesus, a saber, a partida de Jesus e o comprimento de sua missão aqui na terra, ou seja, naquele instante Jesus transfigurou o seu corpo para mostrar a seus discípulos que a eternidade verdadeiramente existe.

Os discípulos viram a glória de Deus manifestada e não a região de habitação dos mortos. Basta ver o evento da nuvem luminosa, que o cobriam, onde Deus da mais uma declaração publica a respeito de seu Filho amado.

Outro caso é o da “reencarnação”, se observarmos atentamente o texto, principalmente o v.12 onde observamos que o Elias citado por Jesus é simbólico e não literal, apoiado pelo texto lucano e v11,12 do capitulo 9 do evangelho de marcos, dizendo que joão batista faria a função de preparador para a obra messiânica.

A Transfiguração De Jesus
“Mateus 17.1-13”


Introdução.
Às vezes não conseguimos entender o sofrimento e a morte de Cristo como vontade de Deus. De fato, ficamos perplexos. Então, Jesus propõe: “Peçamos a Deus orientação sobre este delicado assunto”. E a oração é respondida pela transfiguração: (A morte de Cristo mostrada do ponto de vista celestial).
Os discípulos ficam tristes e perplexos quando Jesus revela que haveria de morrer (Mt 16.21-23). Ele prediz sua ressurreição, mas eles enxergam apenas o lado escuro da crucificação. A fim de encorajá-los, Jesus ora e pede ao Pai que lhes conceda um vislumbre da sua glória futura (Veja Lc 9.28,29; Jo 17.24). Em Marcos, a última cláusula de 8.38 deve ser vinculada a 9.1,2. E são verdade que apenas três dos doze foram testemunhas oculares do evento, mas eram os líderes, e sua atitude influenciaria os demais.

I. A preparação para a Glória (Mt 17.1).
· A ocasião. Uma semana depois da primeira predição da morte de Jesus, os autores dos três evangelhos cuidam de mencionar o tempo a fim de impressionar os leitores com esta verdade: Jesus, num determinado período do seu ministério, pensava profundamente na sua morte, e procurava acostumar os discípulos à idéia, desejando que compartilhassem seus sofrimentos.

· O lugar. O fato ocorreu numa montanha à qual não identificamos com precisão. Certo escritor menciona a predileção de Jesus pelas montanhas. De uma delas, proferiu o Sermão do Monte; e era um monte que procurava, quando tinha motivos especiais de oração. As montanhas são lugares tranqüilos, a erguer-se acima do barulho da terra.

· As testemunhas. Três membros do “circulo fechado”, Pedro, Tiago e João acompanhavam Jesus. Parece-nos o crescimento espiritual destes três mais adiantados do que os outros. Mais altas revelações alcançam quem mais se aproxima de Deus.

II. O propósito da glória.
· Com relação aos discípulos. O Senhor orava com eles. E ficaria ali a noite inteira. No início, todos oravam juntos; depois, os três adormeceram (Mt 26.40). Acerca de que orava Jesus? Lucas 9.31,35 sugere um pedido de confirmação aos discípulos da necessidade de sua morte (Jo 12.27-30). Orava, também, buscando forças para percorrer o caminho da cruz (Lc 9.51).

· Com relação ao Senhor. Embora Filho de Deus, Jesus tinha natureza humana (Hb 2.16-18). Conseguintemente, próximo da cruz, sentia necessidade de encorajamento (Mc 1.13; Mt 26.38). Diante da experiência mais profunda de sua vida – o Calvário – e da incompreensão de seus seguidores, era-lhe confortador saber que o Pai a tudo entendia.

III. A manifestação da glória (Mt 17.2).
Os primeiros três evangelhos nos contam que as vestes do Senhor ficaram brancas e brilhantes; Mateus e Lucas dizem que seu rosto resplandecia como o sol. Muito pouco se diz nos evangelhos acerca da majestade externa de Cristo. Enquanto ministrava entre os humildes, a pompa e a magnificência eram-lhe ausentes. Sua beleza e poder eram interiores e espirituais. A glória divina, porém, na transfiguração, irradiava de tal maneira que ultrapassava o véu da carne e, por breves momentos, os discípulos a puderam contemplar. O que para eles era um vislumbre representava para o Mestre um antegozo de glória futura, como se a mensagem fosse: “Ânimo! Logo o sofrimento será passado, e a glória, realidade” (Veja a experiência de Estevão em Atos 6.15; 7.55).

IV. Os visitantes da glória (Mt 17.3).
Eram Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas, que haviam indicado de antemão a vinda do Mestre (Lc 24.24,44).
· Por quê? Assim como o Pai enviaria um anjo para ministrar-lhe no Getsêmane, envia-lhe agora dois seres celestiais com mensagem de consolo e encorajamento. Podiam fazê-lo, porque haviam triunfado sobre a morte. Moisés, mediante a ressurreição imediata (Dt 34.5,6; Jd 9); e Elias, por trasladação. Ninguém pode consolar os sofredores como aqueles que já sofreram. E o assunto era a morte de Jesus (Lc 9.31). Assim, o Senhor teve a certeza de que o ministério da propiciação era entendido pelos habitantes do céu, e os discípulos compreenderam que o Calvário era parte do propósito divino.

· Como? Era uma visão ou um aparecimento real? É descrito como um aparecimento real. A palavra “visão” (Mt 17.9) significa “aquilo que é visto”, seja em sonho, transe ou na vida real. Duas lições práticas este incidente nos sugere: A existência cônscia e feliz do povo d Deus após a morte (Fp 1.23); e o fato de ser possível o reconhecimento de nossos entes queridos no céu. Moisés e Elias não perderam a sua identidade. Continuaram sendo “Moisés” e “Elias”.

V. A voz da glória (Mt 17.5; 2Pe 1.17).

· A sugestão de Pedro. “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para Moisés e um para Elias”. Pedro deve ter feito a sugestão ao perceber que os visitantes celestiais estavam indo embora. Sem dúvida, imaginava: “Como é melhor estar aqui, com os salvos, do que lá embaixo, entre os fariseus hipócritas e o povo descrente! Fique, Mestre, e afugente os pensamentos sombrios de sofrimentos vindouros. Permaneça aqui, na montanha abençoada pelo céu. Não retorne ao vale deprimente da humilhação”. No calor do momento, Pedro se esqueceu que havia trabalho a ser feito antes de se entrar na glória celestial.

· A declaração do Pai. “Este é o meu Filho amado”. A voz saiu de uma nuvem brilhante, símbolo da presença e glória divinas. Cristo é o amado de Deus por causa de seu relacionamento sem igual com o Pai, da disposta obediência, perfeita submissão à morte na cruz e caráter inculpável. No ministério terrestre, enfrentava forças contrarias cada vez que firmava resolução de ir à cruz. No batismo, expressou seu propósito de cumprir tudo quanto fosse necessário como redentor do pecado (Mt 3.15). Pouco antes da transfiguração anunciara a intenção de ir a Jerusalém e enfrentar o sofrimento e a morte (Mt 16.21-23). E, dias antes de ser crucificado, repeliu a tentação de dizer: “Pai, salva-me desta hora” (Jo 12.27,28).

· O mandamento do Pai. Declarava, em primeiro lugar, ser Jesus superior à Lei e aos Profetas, porque era Filho de Deus; era, portanto, a autoridade máxima em todas as questões (Hb 1.1-3). Transmitia também mensagem especial aos apóstolos, admoestando-os a aceitarem tudo o que o Mestre ensinava, inclusive acerca de sua morte vindoura. É como se o Pai lhes dissesse: “A Ele ouvi, mesmo quando diz que terá de sofrer e morrer”. A nós, também, cabe ouvi-lo: Suas promessas, como amigo e salvador; suas ordens de líder: “Fazei tudo quanto ele vos disser” (Jo 2.5).

VI. A glória vai passando (Mt 17.6-13).

· A descida. Os discípulos caídos ao chão, aterrorizados, sentiram o toque do Mestre: “Levantai-vos, e não tenhais medo. E, erguendo eles os olhos, ninguém viram senão somente a Jesus”. A glória externa passara. Moisés e Elias haviam partido, e a montanha estava escura e quieta. Porém, o Mestre continuava ali! Ele permanecerá quando os ensinadores humanos se forem (Zc 1.5; Hb 13.7,8). A glória celestial e a voz do Pai foram à antecipação de prazer semelhante ao descanso para o viajante extenuado. Sendo ele santo e justo, bem poderia ter saído da montanha e entrado no céu. Mas, neste caso, entrara no mundo da glória sozinho. Preferiu descer a montanha e contemplar a obra de redenção, “trazendo muitos filhos à glória” (Hb 2.10).

· A ordem. “E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão (literalmente o que vistes), até que o Filho do Homem seja ressuscitado dos mortos”. Os discípulos já estavam proibidos de pregar que ele era o Messias (Mt 16.20), porque o povo, pelo falso conceito que dele fazia, se inclinariam a pensar que sua missão era reunir um exército para expulsar os romanos. Por esta razão proibiu-lhes que contassem acerca da glorificação na montanha. Não desejava que o povo alimentasse falsas esperanças. Depois da ressurreição, não haveria perigo de mal-entendidos, porque então entenderiam que seu Reino não era deste mundo, e apenas mediante o arrependimento e a fé teriam acesso a Ele.

· A pergunta. “E os discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?” Noutras palavras: “Por que Elias adiou a sua vinda até agora e ainda ficou só alguns momentos?” Jesus respondeu: “Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas”. Ou seja, levará Israel de volta a Deus, para então passar por uma restauração nacional (Ml 4.5). “Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão também padecer o Filho do Homem. Então entenderam que lhes falava de João Batista”. João Batista não era Elias em pessoa (Jo 1. 21), mas veio “no espírito e virtude de Elias” (Lc 1.17). Traduzindo: Era um profeta como Elias. Pregava arrependimento, vivia em total abstinência, repreendeu um rei perverso, foi perseguido por uma rainha má, nomeou seu sucessor à beira do rio Jordão (2 Rs 2.10-13; Mt 3.11-17), e entregou-se por um período ao desanimo, próximo ao fim do seu ministério.

VII. Conclusão – Aplicação Prática.

· Subindo ao Monte. Jesus levou os discípulos a um monte. Ele deseja nos levar a lugares altos – acima das planícies do pecado, desanimo, fraqueza e falta de visão. Quer nos erguer acima das ambições, padrões e pensamentos baixos. Que a nossa oração possa ser: “Senhor, leva-me, pela fé ao monte celestial, a um plano de vida superior. Firma os meus pés em terreno alto”. Depois de algum tempo em comunhão com o Senhor, poderemos testificar como os antigos profetas: “Deus é a minha fortaleza e a minha força, e ele perfeitamente desembaraça o meu caminho; ele faz os meus pés como o das cervas, e me põe sobre as minhas alturas” (2 Sm 22.34).

· Oração e problemas. Jesus e três dos apóstolos subiram ao monte com propósito de orar (Lc 9.28). Não conseguiam os discípulos entender o sofrimento e a morte de Cristo como vontade de Deus. De fato, estavam perplexos. Então, Jesus lhes propôs: “Peçamos a Deus orientação sobre este delicado assunto”. A oração foi respondida pela transfiguração: A morte de Cristo mostrada do ponto de vista celestial. Muitas coisas se tornam problemas para nós até que as vejamos do ponto de vista celestial. Então, nossa perplexidade desaparece à luz da revelação. O melhor que se pode fazer com um problema são imaginá-lo e orar a respeito dele.

· Da glória da montanha para o trabalho no vale. “E, descendo eles do monte”… Teremos nossas experiências no cume do monte enquanto avançamos no conhecimento do Senhor. No entanto, por muito que desejamos ficar ali, há trabalho a fazer no vale. Não há motivo para tristeza, porque Jesus descerá conosco (Mt 17.14-21), junto com a lembrança da experiência. Os discípulos encontraram forças para enfrentar muitas provações ao evocarem aquela breve reunião no monte com Jesus: “Vimos a sua glória”, testifica João (Jo 1.14); “E ouvimos esta voz dirigida do céu”, declara Pedro (2 Pe 1.18). Quando a provação nos levar à escuridão espiritual, emprestemos a luz das experiências, até que o caminho se torne luminoso outra vez!

· Segredos sagrados. “A ninguém conteis a visão”. Há crentes que costumam testificar cada sonho, visão ou impulso que recebem. Espalham aos quatro ventos os mais íntimos relacionamentos com o Senhor. Depois não sabem por que os ouvintes não os entendem ou ficam indiferentes. Não compreendem tais pessoas que, talvez, o Senhor esteja tratando com elas assuntos particulares e sagrados? Paulo foi arrebatado até o Paraíso, mas não contou a respeito: “Ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar” (2 Co 12.4). Salomão disse que: “a tempo de estar calado, e tempo de falar” (Ec 3.7); e uma sábia mulher “guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração” (Lc 2.19).

· Transformado enquanto orava. “E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto” (Lc 9.29). É fato científico que o caráter da pessoa é revelado no seu rosto. Até os nervos e as células refletem a condição da alma. A gula, o ódio, a concupiscência, a amargura e todas as demais paixões erradas nos marcam o rosto de tal maneira que um observador hábil pode detectá-las. No rosto também são refletidos o amor, a paz, a alegria e outras virtudes espirituais, dando-lhe a beleza que vem das profundezas da alma. Aqueles que costumam viajar por países pagãos podem distinguir, pelos rostos, cristãos e não cristãos: os primeiros transmitem paz e alegria; os últimos, medo e desespero.

Livingstone, grande explorador e missionário disse ter ido à África não tanto para transformar a face do Continente quanto para mudar o rosto do africano.
São no lugar secreto da oração que as rugas das preocupações são removidas, as carrancas aminadas e os rostos compridos alargados. (Veja Salmo 34.5 e Lucas 21.28).
Amém!

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